O Advogado Tiago Lobão Cosenza é natural de Salvador, mas deixou a cidade aos 17 anos para iniciar sua trajetória na área do Direito. Cursou faculdade no interior do Rio de Janeiro e tem em seu currículo passagem por cargos públicos, jurídico interno de empresas nacionais e multinacionais, além de atuação como sócio em um grande escritório full service de São Paulo.
Em entrevista para a página Advocacia Digital, o Advogado compartilha um pouco de sua experiência e desafios enfrentados na carreira, além de falar sobre qual deve ser o perfil e diferenciais do advogado moderno, tanto o corporativo como o que trabalha em escritório, para que se destaque no seu dia a dia.
Entrevista com o advogado Tiago Lobão Cosenza
AD: Conte um pouco sobre sua trajetória como advogado até iniciar sua atuação como in house.
Tiago: Logo no segundo ano da faculdade, queria entrar no mercado de trabalho e passei no concurso como estagiário da Justiça Federal de Nova Friburgo. Lá iniciei na área de atendimento a advogados e fui promovido para estagiário oficial do Juiz da comarca. Após me formar, passei em uma seleção para atuar com advogado júnior em uma empresa americana responsável pela concessão da água e esgoto da cidade. Foi minha primeira oportunidade como advogado corporativo e na área que eu mais gostava e na qual sigo até hoje, o Direito Público.
Como foi sua trajetória dentro das empresas nas quais atuou?
Nesta minha primeira oportunidade como advogado corporativo, tive um rápido crescimento e, em menos de um ano e meio, já era coordenador geral jurídico dentro desta concessionária. Definitivamente foi uma grande escola, por alguns motivos: lá aprendi a não ficar apenas dentro da área jurídica e, sim, a conversar com os engenheiros, ir a campo e conhecer mais a fundo o negócio da empresa.
Esse tipo de atitude me deu bagagem muito mais ampla até do que a própria faculdade de Direito e acredito que foi o que contribuiu para meu rápido crescimento, além de me fazer perceber que esta seria uma característica fundamental para me destacar na carreira.
Outro ponto interessante desta primeira experiência é que, devido esse meu conhecimento do negócio, passei a responder pela relação da empresa com o Poder Público, e esse foi outro fator que me ajudou muito a ser mais articulado e ter habilidade em lidar com diversos públicos.
Após três anos, recebi um convite para me tornar gerente jurídico. Pouco tempo depois que iniciei, tive outra grande oportunidade na carreira, pois assumi a gerência comercial, justamente por entender do negócio e saber falar com o público no geral. Nesta nova função, pude me aprofundar ainda mais na atuação da empresa.
Até então, estava completamente focado na área de saneamento, quando recebi uma proposta para migrar para uma empresa espanhola da área de energia no Rio de Janeiro. Nesta mudança, eu teoricamente dei um passo atrás na carreira, pois saí da posição de gerente para assumir a de advogado sênior, mas foi um movimento importante para o futuro da minha carreira.
Entrei no jurídico interno dessa empresa, fiquei pouco mais de um ano e percebi que o processo de promoção lá era lento e difícil. Então, resolvi sair da minha zona de conforto novamente e fui a campo conhecer a fundo o negócio de Energia, a ponto de identificar que a empresa precisava criar uma área de regulação. Montei um projeto, apresentei para o Diretor de Concessões que mandou para a matriz na Espanha. Então, foi aprovada a criação deste novo setor, o qual assumi a gerência. Com esta oportunidade, tive ainda mais contato com o dia a dia da empresa e com a agência reguladora, e mais uma vez pude aprofundar meu conhecimento nos negócios e nas normas (que não necessariamente são jurídicas), o que me abriu diversas portas.
Na sua opinião, quais as principais características e habilidades que um advogado corporativo precisa ter?
É fundamental para o advogado interno de empresa ter muito conhecimento e habilidade em gestão: precisa saber gerir pessoas, um departamento, custos. E é muito cobrado por isso.
Acredito também que o maior diferencial deste profissional definitivamente é entender o negócio da empresa, pois é neste momento que ele deixa de ser custo e passa a ser um funcionário estratégico para a corporação, além de certamente lidar muito melhor com os escritórios contratados, tendo uma posição de gerenciador estrategista.
Como foi o processo de transição de empresa para escritório e o que te motivou a fazer esta mudança?
Após 4 anos de atuação na empresa espanhola, houve uma total reformulação na Diretoria e senti que não havia mais espaço para mim. Neste momento, quase mudei totalmente de carreira para empreender na área de alimentação. Foi quando recebi o inusitado convite do sócio de um grande escritório terceirizado que atendia a empresa para que eu também me tornasse sócio da mesma banca, atuando em Direito Público. O que é um caminho diferente do que a maioria dos advogados costuma fazer (iniciam em escritórios e migram para departamentos jurídicos) e, por isso, tive receio. Não tinha naquela época uma grande experiência no dia a dia do contencioso, por exemplo, como advogado externo, mas a condição foi de ir e poder montar minha equipe, e decidi aceitar o desafio e, novamente, mudei desta vez para São Paulo.
E a mudança não foi apenas de cidade: me deparei com uma advocacia completamente diferente. Na empresa, estava na minha zona de conforto, conhecia o Direito Material e o negócio, além disso, havia um corpo de escritórios terceirizados que me atendiam e com os quais sempre contava para emissão de um parecer ou confirmar alguma decisão.
Como vem sendo sua trajetória dentro de escritório?
O principal desafio foi me adaptar a infraestrutura de escritório que é completamente diferente da de empresa.
No entanto, consegui trazer minha bagagem de jurídico interno, o que é muito positivo: conhecer a fundo os negócios dos clientes foi um grande diferencial e que me fez destacar não apenas na banca, mas também perante os concorrentes; a habilidade adquirida com as experiências anteriores em conversar com todos os públicos facilitou a comunicação com todas as áreas de uma empresa – do advogado interno, engenheiro ao CEO; e finalmente, a facilidade em gerir, que eu usava muito no jurídico interno, foi um grande sucesso ao ser aplicada no escritório (gestão de números, elaboração de budget anual para a área, a gestão de pessoas, entre outros pontos).
Por outro lado, tive uma grande desconfiança por parte da equipe, que estranhou o fato de ter como gestor um advogado que nunca tinha atuado antes em um escritório de advocacia. Mas aos poucos fui demonstrando estes pontos da importância do negócio, de como o cliente gosta de ser atendido e, com o tempo, uma boa parte da equipe foi modificada para o perfil que eu acreditava que tinha que ser, e treinada com essas características que considero fundamentais.
Na sua opinião, quais as principais características e habilidades que um advogado de escritório precisa ter?
É preciso ter em mente que o advogado moderno de escritório não deve saber apenas do Direito. Claro que o Direito é o básico para atuar no escritório, mas o verdadeiro diferencial está na qualidade do atendimento, no conhecer o negócio do cliente e, além disso, é preciso entender que dentro do jurídico interno das empresas não existe mais aquele perfil de advogado mero “carimbador de contratos”, pelo contrário. As empresas contam hoje com profissionais renomados e extremamente preparados. Por isso, o advogado de escritório tem que se reinventar, deixando de ser um mero prestador de serviço para se tornar um profissional estratégico para o cliente.
Além disso, acredito que um grande diferencial de um escritório terceirizado é gerar possibilidades de negócios para seu cliente.
Após passar pelas duas experiências (corporativo e escritório) qual delas você acredita que tem mais o seu perfil e te traz mais realização profissional?
Tive alguns convites para atuar novamente na área jurídica de empresas, mas acredito que hoje não voltaria, pois gostei muito da liberdade que o escritório traz.
Dentro de uma empresa você está mais preso a horários e mais restrito ao negócio do Direito daquela companhia em que você trabalha. E, quando vim para escritório, me abri para uma nova perspectiva, que era a de atender clientes variados e ganhar espaço no mercado. Também gosto da correria, de traçar metas mais ousadas, isso me dá adrenalina todo dia de manhã, mais do que ter um trabalho com remuneração fixa, pois acredito que o advogado tem que ter um perfil dinâmico. Gosto muito deste dinamismo diário.